segunda-feira, 29 de junho de 2009

A maconha e seus efeitos medicinais

Quem escreveu isto é uma pessoa séria. Assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso... E eu.

Descriminalizem a maconha

Estou ao telefone aprendendo uma receita de manteiga de haxixe. Não com um traficante, mas com Lester Grinspoon, professor emérito de Psiquiatria da Escola de Medicina de Harvard. E não é para uma festa, mas para meu filho de 9 anos, que sofre de autismo, ansiedade e problemas digestivos, que são aliviados pelas propriedades analgésicas e psicoativas da maconha. Não lhe daria se não achasse seguro.

Descobri a maconha quando procurava uma alternativa mais segura aos fortes remédios antipsicóticos, como o Risperdal, habitualmente receitados para crianças com autismo e outros distúrbios de comportamento. Há poucos estudos sobre os efeitos desses medicamentos, a longo prazo, no cérebro de uma criança em crescimento, em especial sobre o autismo, distúrbio cujos mecanismos bioquímicos são pouco compreendidos. Mas existe farta documentação sobre riscos, o que levou a Food and Drug Administration (FDA) a exigir nas embalagens o alerta máximo, a "tarja preta", informando possíveis efeitos colaterais, que incluem tremores permanentes como os do mal de Parkinson, distúrbios metabólicos e morte. Um painel de especialistas federais em remédios, em 2008, insistiu que os médicos sejam cautelosos ao receitar esses remédios a crianças, mais suscetíveis aos efeitos colaterais.

Moramos em Rhode Island, um dos mais de 12 Estados - incluindo a Califórnia - que têm leis para uso medicinal da maconha. Isso nos permite dá-la a nosso filho, para uso médico, legalmente. Mas nos limita seu uso. Não podemos levá-la de avião numa visita à avó em Minnesota.

Embora não violemos a lei, pergunto-me o que os vizinhos pensariam se soubessem que damos a nosso filho o que a maioria das pessoas encara como droga "recreativa" ilegal. A maconha sempre carregou o estigma do perigo ilícito - A Porta da Loucura e cartéis estrangeiros do tráfico. Mas em 1988, após dois anos de audiências, o juiz Francis L. Young, da Drug Enforcement Administration (DEA), considerou-a "uma das substâncias terapêuticas mais seguras entre as conhecidas pelo homem. (...) Em termos estritamente medicinais, a maconha é muito mais segura que muitos alimentos que comumente consumimos".

Além de ajudar pessoas como meu filho, são muitas as razões para legalizar a maconha em nível federal. Depoimentos de pacientes atestam suas propriedades analgésicas. E os benefícios no combate ao enjoo da quimioterapia e à debilitação decorrente estão bem documentados. Estudos futuros podem descobrir empregos medicinais ainda mais importantes.

Incluir a maconha na guerra às drogas mostrou-se temerário - e caro. Ao manter a maconha ilegal e os preços altos, o dinheiro da droga ilícita dos EUA sustenta os traficantes assassinos no México e em outros países. Na verdade, depois de perceber como a proximidade dos cultivadores de maconha afetava a pequena vila mexicana de Alamos, onde meu marido passou boa parte da infância, sempre fui inflexível em nunca entrar nessa economia da violência.

Como em Rhode Island não há postos fornecedores, como na Califórnia, o paciente precisa pedir uma licença para uso medicinal de maconha e então achar um jeito de obtê-la. Tivemos de improvisar até finalmente contatarmos um horticultor local graduado que concordou em fornecer maconha orgânica a nosso filho. Mas, em razão do degradado submundo do comércio de drogas ilegais, somado ao colapso econômico atual, até nosso plantador precisa ficar atento para não se expor a furtos.

Legalizar a maconha não só elimina o incentivo a essa economia subterrânea, como permite a regularização e tributação do produto, tal como o cigarro e o álcool. Potencial para abusos existe, como com qualquer substância, mas estudos toxicológicos não foram sequer capazes de estabelecer uma dosagem letal nos níveis típicos de consumo. De fato, em 1988, Young ainda disse: "Estima-se que um fumante teoricamente teria de consumir cerca de 680 kg de maconha em quase 15 minutos para induzir uma reação letal." E a maconha nem provoca dependência física, diferente do cafezinho do Starbucks, como pode atestar quem já sofreu de dores de cabeça por abstinência de café.

Apesar de demonizada por anos, não faz tanto tempo que a maconha é ilegal nos EUA. Ela foi criminalizada no nível federal em 1937, pelos esforços de um só homem, Harry Anslinger, comissário do recém-formado Birô de Narcóticos, e por meio de histórias sensacionalistas de assassinatos e violência supostamente cometidos sob o efeito da Canabis. A planta continuou relacionada na farmacopeia dos EUA até 1941 como droga nativa útil para tratar dores de cabeça e de dente, depressão e cólicas menstruais, e as empresas farmacêuticas trabalhavam para desenvolver variedades mais fortes.

Em 1938, um cético Fiorello Laguardia, prefeito de Nova York, nomeou um comitê para fazer o primeiro estudo em profundidade dos verdadeiros efeitos da maconha. Ele concluiu que, apesar das acaloradas alegações do governo, a maconha não causa insanidade nem age como porta de entrada de outras drogas. Tampouco encontrou razões científicas para sua criminalização. Em 1972, a comissão Shafer, do governo Nixon, concluiu que a Canabis devia ser legalizada de novo.

Ambas as recomendações foram ignoradas e desde então bilhões de dólares foram gastos para sustentar a proibição. O analista de políticas públicas Jon Gettman, autor do relatório Receitas perdidas e outros custos das leis antimaconha, de 2007, estimou o custo anual da repressão à maconha em US$ 10,7 bilhões.

Fiquei animada ao ouvir o recente apelo do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, para que os EUA observem as experiências de outros países com a legalização da maconha e abram um debate. E, dadas as reais ameaças à segurança do país, foi prudente o anúncio do procurador-geral Eric H. Holder Jr. de que o governo federal não faria mais batidas contra fornecedores legais de maconha medicinal. A descriminalização é o próximo passo nessa lógica.

Marie Myung-Ok Lee, professora da Universidade Brown, trabalha num livro sobre imperícia médica

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Riquezas

Manutenção de privilégios. Os recursos naturais geram as riquezas. A Terra é nossa mãe. A quem pertencem os recursos naturais? À humanidade! Todos têm direito a comer, se vestir morar...

Ajuda a bancos em um ano supera a para países pobres em 50, diz relatório

da BBC Brasil

A indústria financeira internacional recebeu no último ano quase dez vezes mais dinheiro público em ajuda do que todos os países pobres em meio século, segundo aponta um relatório divulgado nesta quarta-feira pela Campanha da ONU pelas Metas do Milênio.

Segundo a organização, que promove o cumprimento das metas das Nações Unidas para o combate à pobreza no mundo, os países em desenvolvimento receberam em 49 anos o equivalente a US$ 2 bilhões em doações de países ricos.

Leia a cobertura completa da crise nos EUA
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Entenda como a crise financeira global afeta o Brasil

Apenas no último ano, os bancos e outras instituições financeiras ameaçadas pela crise global receberam US$ 18 bilhões em ajuda pública.

A divulgação do relatório coincide com o início de uma conferência entre países ricos e pobres na sede da ONU, em Nova York, para discutir o impacto da pior crise econômica mundial desde os anos 1930.

O encontro, que acontece até o dia 26, tem como principal objetivo "identificar as respostas de emergência para mitigar o impacto da crise a longo prazo", segundo a convocação das Nações Unidas.

Um dos principais desafios da reunião será conseguir um compromisso que permita unir países industrializados e em desenvolvimento para definir uma nova estrutura financeira mundial, prestando atenção especial às populações mais vulneráveis.

Vontade política

O relatório da Campanha pelas Metas do Milênio argumenta que a destinação de dinheiro ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.

"Sempre digo que se você fizer uma promessa e não cumprir, é quase um pecado, mas se fizer uma promessa a pessoas pobres e não cumprir, então é praticamente um crime", disse à BBC o diretor da Campanha pelas Metas do Milênio, Salil Shetty.

"O que é ainda mais paradoxal é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os pobres) são voluntários. Ninguém os obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados", lamentou.

"O que pedimos de verdade é que nas próximas reuniões, na ONU nesta semana, e na cúpula do G-8 (em julho), os países ricos apresentem uma agenda clara para cumprir com as promessas que fizeram", disse Shetty.

O relatório da organização observa ainda que a crise mundial piorará a situação dos países mais pobres. Na última semana, a FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação) afirmou que a crise deixará 1 bilhão de pessoas em todo o mundo passando fome.

Para Shetty, é importante que os países pobres também participem de qualquer discussão sobre a crise financeira global.

"Hoje eles não têm nenhuma voz nas principais instituições financeiras. Enquanto não participarem da tomada de decisões, as coisas nunca vão mudar", afirmou.


(de http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u585625.shtml)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Causa-me nojo este Berlusconi! É do sistema do mundo.

Muito bom o que publicou o Observatório da Imprensa:

EL PAÍS vs. BERLUSCONI
Os embalos do caudilho

Por Alberto Dines em 9/6/2009

Os partidos de direita e conservadores saíram reforçados nas eleições para o Parlamento Europeu e papi Sílvio Berlusconi nem sequer foi chamuscado pela publicação no respeitado diário espanhol El País das fotos das farras que promove em sua mansão na Sardenha (ver aqui).

O fotógrafo italiano Antonello Zappadu não é um paparazzo, é um correspondente de guerra, ultimamente engajado na cobertura da luta do governo colombiano com as FARCs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Não estava interessado em escândalos sexuais (tanto assim que cobriu os rostos dos convivas que não ocupam funções públicas), deixou à mostra apenas o pênis ereto que se supõe ser do ministro tcheco Mirek Topolanek, um reacionário amigo de Bush e Berlusconi. Seus inabaláveis méritos físicos correram o mundo no último fim de semana e a sua explicação desvenda o estado de espírito que hoje domina a Europa: "Trata-se de uma fotomontagem socialista".

Zappadu pretendia denunciar as falcatruas do capo italiano que utiliza recursos públicos e inclusive aviões do Estado para seus bacanais. Estas fotos jamais poderiam ser publicadas na Itália: o país está dominado pelos tentáculos de Berlusconi, a justiça local seria facilmente cooptada a condenar um jornal italiano.

Se o fotógrafo residisse na Itália seria liquidado misteriosamente por algum mafioso. Zappadu vive na Colômbia e declarou que tem mais medo de Il Cavaliere do que de qualquer chefão do narcotráfico.

Dois inimigos

A publicação das fotos por El País dois dias antes das eleições européias aparentemente não prejudicou a direita italiana. Berlusconi passou incólume pelo Noemigate, o escandaloso romance com a amiguinha de 18 anos (que o chama de papi) Noemi Letízia, e culminou com o seu divórcio.

Estamos assistindo a um novo Renascimento – o dos caudilhos. De esquerda como de direita. O chamado Ocidente (que inclui o Velho e o Novo Mundo) não está interessado em valores morais, as classes médias estão viradas para dentro, preocupadas exclusivamente com suas entranhas, seus vinhos, sua glutonia e sua sobrevivência. Suas idéias cabem no Twitter e por meio dele fabrica-se o teflon que torna os caudilhos tão queridos e impermeáveis aos escândalos.

A recessão serviu aos facínoras que tomaram de assalto o poder nos anos 20 e 30 do século passado. Outra recessão, talvez ainda mais forte, poderá produzir caudilhos ainda mais perigosos – os inofensivos, engraçadinhos, futebolistas. Na véspera das eleições, Berlusconi tranqüilizou os italianos garantindo que o atacante Kaká não trocaria o Milan pelo Real Madrid. Mas o craque trocou.

O caudilho tem dois formidáveis inimigos na melhor imprensa européia: o conservador The Economist e o progressista El País. Os dotes do tcheco Topolanek são mais úteis.

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A coisa Berlusconi

José Saramago (*)

Reproduzido do blog do autor, 8/6/2009

Este artigo, com este mesmo título, foi publicado ontem [7/6] no jornal espanhol El País, que expressamente mo havia encomendado. Considerando que neste blogue fiz alguns comentários sobre as façanhas do primeiro-ministro italiano, estranho seria não recolher aqui este texto. Outros haverá no futuro, seguramente, uma vez que Berlusconi não renunciará ao que é e ao que faz. Eu também não.

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Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália. Esta coisa, esta doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não conseguir arrancá-la da consciência dos italianos antes que o veneno acabe por corroer-lhes as veias e destroçar o coração de uma das mais ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez. Delinquência, no meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da comunicação, "acto de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais". A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima. Desde há anos que a coisa Berlusconi tem vindo a cometer delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Além disso, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho da ruína para onde estão a ser levados por arrastamento os valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar para o caixote do lixo da História. Vão os italianos permiti-lo?

(*) Escritor

(de http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=541JDB001)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Adeus General Motors" / "Adiós General Motors" / "Farewell General Motors" / "Goodbye General Motors"

É isso aí, Mike!

3 DE JUNHO DE 2009 - 10h30

Michael Moore: 'Adeus, General Motors'


Escrevi isso na manhã do fim da antes poderosa General Motors. Por volta do meio-dia, o presidente dos Estados Unidos tornaria oficial: a GM, tal como a conhecemos, teve perda total.


Por Michael Moore



Enquanto estou aqui sentado no berço da GM, em Flint, Estado de Michigan, estou cercado de amigos e famílias cheios de ansiedade pelo que acontecerá com eles e com sua cidade. Quarenta por cento das casas e negócios da cidade foram abandonados. Imaginem como seria viver numa cidade em que quase metade das casas está vazia. Qual seria seu estado de espírito? É uma triste ironia que a companhia que inventou a "obsolescência planejada" — a decisão de construir carros que se desmantelariam após alguns anos para que o consumidor tivesse de comprar um novo — agora se tornou obsoleta.


Ela se recusou a fabricar automóveis que o público queria, carros mais econômicos, que fossem tão seguros quando poderiam, e fossem expressivamente confortáveis de dirigir. Ah... e que não começariam a se desmanchar depois de dois anos. A GM teimosamente combateu regulamentos ambientais de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os carros japoneses e alemães "inferiores", carros que se tornariam o padrão ouro para compradores de automóveis. E ela foi determinada em punir sua força de trabalho sindicalizada, cortando milhares de empregos por nenhuma boa razão além de "melhorar" os resultados financeiros de curto prazo da corporação.


A partir dos anos 80, quando a GM registrou lucros recordes, ela deslocou incontáveis empregos para o México e outros lugares, destruindo assim as vidas de dezenas de milhares de americanos que trabalhavam duro. A flagrante estupidez dessa política foi que, quando eles eliminaram a renda de tantas famílias de classe média, quem vocês acham que seria capaz de comprar seus carros? A história registrará essa trapalhada da mesma maneira como escreve hoje sobre os franceses, que construíram a Linha Maginot, ou de como os romanos envenenaram sem saber seu próprio sistema de água com chumbo letal em seus canos.


Então, aqui estamos ao pé do leito de morte da GM. O corpo da companhia ainda não esfriou, e eu me vejo cheio de - ousaria dizê-lo - alegria. Não é a alegria da vingança contra uma corporação que arruinou minha cidade natal e trouxe miséria, divórcio, alcoolismo, sem-teto, debilitação física e mental, e vício em drogas para as pessoas com as quais cresci. Eu não tenho, obviamente, nenhuma alegria em saber que mais 21 mil trabalhadores da GM serão informados de que também eles estão sem trabalho.


Mas os Estados Unidos agora possuem uma empresa automobilística! Eu sei, eu sei... quem, na terra, quer gerir uma montadora de carros? Quem de nós quer 50 bilhões de nossos dólares atirados no buraco sem fundo para tentar ainda salvar a GM? Salvar a nossa preciosa infraestrutura industrial, porém, é outra questão e deve ser uma alta prioridade. Se permitirmos o fechamento e desmantelamento de nossas plantas automotivas, nós dolorosamente desejaremos ainda as possuir quando percebermos que essas fábricas poderiam ter construído os sistemas de energia alternativa de que hoje desesperadamente precisamos. E quando percebermos que a melhor maneira de nos fazer transportar é em trens-bala e de superfície e ônibus mais limpos, como faremos isso se tivermos permitido que nossa capacidade industrial e sua força de trabalho especializada desapareçam?

Portanto, como a GM está "reorganizada" pelo governo federal e pelos tribunais de falências, aqui está o plano que desejaria que o presidente Obama implementasse, pelo bem dos operários, das comunidades da GM, da nação como um todo. Há 20 anos, quando fiz o filme "Roger & Me", tentei advertir as pessoas do que estava acontecendo à General Motors. Se a estrutura do poder e a igrejinha de especialistas tivessem ouvido, talvez muito do que aconteceu agora tivesse sido evitado. Baseado em minhas gravações, eu solicito uma consideração honesta e sincera sobre as seguintes sugestões:

1. Tal como fez o presidente Roosevelt após o ataque a Pearl Harbor, o presidente Obama precisa dizer à nação que estamos em guerra e precisamos imediatamente converter nossas fábricas de automóveis em fábricas que produzam veículos de transporte de massa e dispositivos de energia alternativa. Em poucos meses de 1942, em Flint, a GM paralisou toda a produção de carros e usou imediatamente as linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. A conversão não tomou nenhum tempo. Todos se empenharam. Os fascistas foram destruídos.


Estamos agora num tipo diferente de guerra - uma guerra que foi conduzida contra os ecossistemas e foi movida por nossos líderes corporativos. Essa guerra atual tem duas frentes. Uma tem seu quartel-general em Detroit. Os produtos construídos nas fábricas de GM, Ford e Chrysler estão entre as maiores armas de destruição em massa responsáveis pelo aquecimento global e o derretimento de nossas calotas polares. As coisas a que chamamos "carros" podiam ser divertidas de guiar, mas são como um milhão de adagas no coração da mãe natureza. Persistir na sua fabricação só levará à ruína de nossa espécie e de boa parte do planeta.


A outra frente nessa guerra está sendo travada pelas companhias de petróleo contra você e eu. Elas estão empenhadas em nos depenar sempre que puderem, e têm sido as gerentes implacáveis da quantidade finita de petróleo que está localizado sob a superfície da terra. Elas sabem que o estão sugando até o bagaço. E como os magnatas da madeira no início do século 20, que não davam a mínima para futuras gerações quando derrubaram as florestas, esses barões do petróleo não estão dizendo ao público o que eles sabem que é verdade - que existem apenas algumas poucas décadas de petróleo aproveitável. E à medida que os últimos dias do petróleo se aproximam, nos preparar para algumas pessoas muito desesperadas dispostas a matar e ser mortas apenas para pôr as mãos num galão de gasolina.


O presidente Obama, agora que tem o controle da GM, precisa converter as fábricas para funções novas e necessárias imediatamente.


2. Não coloque outros US$ 30 bilhões nos cofres da GM para construir automóveis. Ao contrário, use o dinheiro para manter a atual força de trabalho — e a maioria dos que dependem dela — empregada, para que possam construir novos modos de transporte no século 21. Deixe-os começar o trabalho de conversão agora mesmo.


3. Anuncie que teremos trens-bala cruzando este país nos próximos cinco anos. O Japão está celebrando o aniversário de 45 anos de seu primeiro trem-bala este ano. Agora eles têm dúzias deles. A média de velocidade deles é de 265 quiolômetros por hora. A média de atraso de cada trem é de menos de 30 segundos. Eles têm esses trens de alta velocidade por aproximadamente cinco décadas — e nós sequer temos um! O fato de que já exista tecnologia que nos faça ir de Nova York para Los Angeles, de trem, em 17 horas, e que nós não a usamos, é criminoso. Contratem desempregados para construir as novas linhas de alta velocidade por todo o país. Chicago a Detroit em menos de duas horas. Miami a Washington em menos de 7 horas. Denver a Dallas em cinco horas e meia. Isso pode ser feito e pode ser feito agora.


4. Iniciar um programa para construir linhas de transporte leve de trens em nossas cidades, grandes e médias. Construam esses trens nas fábricas da GM, e empregue pessoas desses municípios para que instalem e façam esses sistema funcionar.


5. Para pessoas que moram em áreas rurais não servidas por essas linhas de trens leves, que a GM construa ônibus limpos e eficientes.


6. Algumas fábricas da GM devem passar a construir veículos híbridos ou completamente elétricos. Levaria poucos anos para que as pessoas se acostumassem aos novos meios de transporte, portanto, se continuaremos a ter automóveis, que eles sejam melhores. Podemos construir essas coisas a partir do próximo mês (não acredite em ninguém que te diga que levaria anos a realinhar as fábricas — isso simplesmente não é verdade).


7. Transforme algumas das fábricas vazias da GM em instalações que construam moinhos de vento, painéis solares e outros meios de energia alternativos. Nós precisamos de milhões de paineis solares imediatamente. E temos uma força de trabalho eficiente e habilidosa pronta para construi-los.


8. Incentive com impostos menores aqueles que viajam de ônibus, trens ou carros híbridos. Também forneça crédito para quem converter sua casa para energias alternativas.


9. Para ajudar a pagar tudo isso, estabeleça um imposto de dois dólares para cada galão de gasolina. Isso fará com que as pessoas mudem para carros econômicos ou comecem a utilizar as novas linhas de trem fabricados pelos operários da antiga linha de produção de automóveis


Bem, isso é o início. Por favor, por favor, por favor, não salve a GM para que, sendo menor, simplesmente continue fabricando Chevys e Cadillacs. Isso não é uma solução durável. Não desperdice dinheiro em uma empresa cujo escapamento está funcionando mal, enchendo o ar de fumaça.


Há 100 anos, os fundadores da GM convenceram o mundo a desistir de seus cavalos, selas e carruagens para tentar uma nova forma de transporte. Agora chegou a hora de nós dizermos adeus ao motor de combustão interna. Ele pareceu nos servir tão bem por tanto tempo. Nós gostávamos de fazer malabarismos com os carros, tanto sentados no banco da frente como no de trás. Assistíamos filmes em grandes telas ao ar livre, íamos as corridas da Nascar por todo o país. E víamos o Oceano Pacífico pela primeira vez através da janela na Highway 1. E agora isso acabou. Este é um novo dia e um novo século.

Fonte: Huffington Post de 1º de junho (
http://www.huffingtonpost.com/michael-moore/goodbye-gm_b_209603.html )


terça-feira, 2 de junho de 2009

Economia de guerra

É isso aí! "suspenderam a fabricação de automóveis"!


Michael Moore pede mudança radical em indústria automotiva dos EUA

01/06/2009 - 22:16 - EFE

Logo EFE

Washington, 1 jun (EFE).- O polêmico diretor americano Michael Moore propôs hoje declarar em estado de guerra a indústria automotiva dos Estados Unidos para transformá-la completamente.

Em carta postada em seu site, o produtor de documentários como "Fahrenheit 11 de setembro" e "Tiros em Columbine" afirmou que "a única forma de salvar a GM (General Motors) é matar a GM".

Na maior quebra na história dos Estados Unidos e para se proteger dos devedores, a empresa recorreu ao Capítulo 11 de falências em um tribunal de Nova York.

Em um plano de nove pontos, Moore pede ao presidente Barack Obama para informar ao país que se está "em guerra" e que "as unidades de produção de automóveis (devem se transformar) em instalações para a fabricação de veículos de transporte em massa e equipamentos de energia alternativa".

Moore lembrou que, em 1942, os EUA suspenderam a fabricação de automóveis e utilizaram as linhas de montagem para construir os aviões, tanques e metralhadoras usados na Segunda Guerra Mundial.

"Essa conversão não demorou nada. Todos ajudaram. Os fascistas foram derrotados", indicou.

"Agora estamos em uma guerra diferente, uma guerra que dirigimos contra o ecossistema e que foi liderada por nossos próprios líderes empresariais", ressaltou.

Moore acrescentou que os produtos que saem de GM, Ford e Chrysler, as três grandes fabricantes de automóveis americanas, são agora as maiores armas de destruição em massa responsáveis pelo aquecimento global e pelo derretimento das calotas polares.

Segundo o diretor, a Casa Branca não deveria entregar US$ 30 bilhões à GM para que a empresa siga fabricando automóveis.

"Deveria utilizar esse dinheiro para manter a atual força de trabalho e para que os que foram demitidos sejam empregados, para que possam construir os novos sistemas de transporte do século XXI", indicou.

Moore também propôs transformar algumas plantas da GM para a construção de moinhos de vento, painéis solares e outras formas de energia alternativa. EFE ojl/db
(de http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/06/01/michael+moore+pede+mudanca+radical+em+industria+automotiva+dos+eua+6478928.html)