Primeiro:
Grupo de índios é fotografado pela 1ª vez no Acre
Coordenador da Funai diz ter divulgado imagens para proteger índigenas.
Da BBC Brasil em São Paulo - Fotografias de um grupo isolado de índios na Amazônia foram divulgadas pela primeira vez por um funcionário da Funai, que sobrevoou a região em uma missão financiada pelo governo do Acre.
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"Resolvi fazer a divulgação porque os mecanismos (para proteger essas populações) não têm servido. Ou a opinião pública entra nisso ou eles vão dançar", disse o organizador da missão e coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, José Carlos dos Reis Meirelles Júnior.
O grupo fotografado é o maior dos quatro isolados que existem apenas no Acre. Segundo Meirelles, há registro da presença deles na região desde pelo menos 1910.
"Não sei nada deles, e a idéia é continuar não sabendo", diz Meirelles.
As fotos mostram as malocas do grupo e índios pintados com urucum. Uma delas registrou o momento que membros do grupo tentam acertar o avião do fotógrafao com flechas.
"Enquanto eles estiverem nos recebendo a flechadas, e eu já levei uma na cara, estarão bem. O dia que ficarem bonzinhos, já eram...", disse Meirelles.
Peru
A Survival International, entidade que faz campanha pelos direitos dos índios, estima que haja cerca de 40 grupos indígenas isolados no Brasil (no mundo todo seriam 100).
Meirelles diz que já foi confirmada a existência de mais de 20 grupos isolados mas que dada a extensão da Amazônia, esse número pode de fato chegar a 40.
Meirelles, que trabalha na Amazônia desde os anos 70, defende que esses povos sejam deixados como estão, já que escolheram permanecer isolados, mas acredita que as pessoas precisam saber que eles existam e que estão sob forte ameaça.
"O futuro deles depende da gente, ou a gente preserva as regiões acidentadas (onde eles vivem) que não servem para agricultura, só servem para serem preservadas, ou essa gente vai acabar"
Segundo o especialista da Funai, os índios que vivem na divisa do Acre com o Peru estão ameaçados pelas atividades predatórias na Amazônia peruana, como a exploração ilegal de madeira e a invasão de terras.
"Tudo que é ilegal que você pode imaginar, acontece na Amazônia peruana. Do lado brasileiro, a gente consegue isolar, evitar invasões, mas a coisa está pegando do lado de lá (do Peru)."
Ele diz ter provas de que pelo menos dois grupos do Peru passaram para a Amazônia brasileira.
"São pelo menos duas aldeias com 15 ou 20 casas, mas esses daí você não fotografa. Eu já andei a pé por lá, mas quando você sobrevoa, esse pessoal desaparece."
"Por mim, eles são bem-vindos, mas o meu medo é que essa migração gere conflito (com outros índios estabelecidos no Brasil)".
Vulnerabilidade
Segundo Meirelles, os índios que vivem na fronteira do Acre com o Peru estão sob ameaça de brancos brasileiros "ainda", mas ressalta que não há como separar os impactos numa área de fronteira.
"Tudo o que foi feito de ruim com as cabeceiras desse rio, exploração de madeira, petróleo, garimpo, tudo vai parar no Brasil. Está mais do que na hora de fazer alguma coisa."
As fotografias foram divulgadas pela Survival International, que apóia a política da Funai para povos isolados de "nunca fazer o contato, apenas demarcar a área e deixá-los em paz".
Meirelles diz que duas terras indígenas já foram demarcadas sem que fosse feito contato, e uma terceira nessa mesma situação está prestes a ser feita.
Para a ativista da Survival Fiona Watson, o contato não só violaria os direitos dos índios, já que eles escolheram permanecer isolados, como poderia ser fatal.
Watson cita casos de grupos que tiveram metade da sua população dizimada depois do contato. "Doenças facilmente curáveis para nós podem ser fatais."
"Esses povos são únicos. Uma vez que eles desaparececem, desaparecem para sempre."
da BBC Brasil (http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac180317,0.htm)
Segundo:(de http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac180567,0.htm)Foto de índios atacando avião lembra imagem polêmica de 1944
Imagem publicada na extinta revista 'O Cruzeiro' teve grande repercussão no Brasil e ganhou o mundo
Edmundo Leite, do estadao.com.br
SÃO PAULO - A divulgação de fotos de índios de uma tribo isolada no Acre atirando flechas contra um avião relembra um episódio de grande repercussão no Brasil nos anos 40, quando a revista O Cruzeiro publicou uma reportagem assinada pela polêmica dupla formada pelo repórter David Nasser e o fotógrafo Jean Manzon. Intitulada "Enfrentando os chavantes", a reportagem publicada na edição de 24 de junho de 1944 tinha como principal ilustração uma foto dos índios atacando o avião que sobrevoava uma aldeia na região de Xingu, no Mato Grosso.
A imagem ganhou grande repercussão, já que a O Cruzeiro - do grupo Diários Associados do magnata Assis Chateubriand - era então o veículo de comunicação mais influente do País, com uma controversa linha editorial que misturava jornalismo e espetáculo. Nasser e Manzon eram os principais nomes da publicação e não tinham pudor de aumentar, omitir e inventar informações para suas reportagens, como mostra o livro 'Cobras Criadas', do jornalista Luiz Maklouf Carvalho.
A imagem dos índios foi um dos vários casos polêmicos protagonizados pela dupla. Nasser escreveu um relato cheio de detalhes narrando de sua aventura e do fotógrafo para fazer as imagens, mas não estaria no vôo. A própria autoria da imagem é controversa. Manzon teria aproveitado os fotogramas de um filme feito por um militar e que caiu em suas mãos por causa de seus contatos no DIP, departamento de propaganda do Estado Novo em que trabalhou. A polêmica sobre a autoria, no entanto, não é suficiente para tirar força da imagem, que ganhou o mundo. Alguns meses depois, ela foi estampada com destaque na revista americana Life.
Terceiro:
Foto de índios isolados gera dilema sobre contato com tribos
Grupo de índios foi fotografado pela primeira vez no Acre e as imagens foram divulgadas na última quinta
STUART GRUDGINGS - REUTERS
RIO DE JANEIRO - Fotografias dramáticas de índios da Amazônia antes desconhecidos chamaram atenção do mundo para a situação precária das poucas tribos isoladas ainda existentes e para o perigo com que se deparariam ao eventualmente entrar em contato com o mundo exterior. Os índios constantes das imagens divulgadas na quinta-feira, que empunhavam arcos e flechas, seriam provavelmente os membros remanescentes de uma tribo maior que se viu obrigada a ingressar mais profundamente na floresta, montando acampamentos cada vez menores, disseram especialistas.
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Em vez de formar uma tribo "perdida", esses índios devem ter mantido vários canais de comunicação com outros grupos ao longo dos últimos anos, afirmou Thomas Lovejoy, um especialista em questões amazônicas que preside o The Heinz Center, em Washington.
"Acredito haver uma questão ética, a questão sobre se alguém conseguiria, no final, protegê-los de qualquer tipo de contato. E a resposta para isso é 'não"', disse Lovejoy. "A resposta certa é ter um tipo de contato e de mudança de forma que as próprias tribos possam administrar isso."
A área da fronteira entre o Brasil e o Peru revela-se um dos últimos refúgios do mundo para grupos desse tipo, já que se encontram ali cerca de 50 das cerca de 100 tribos isoladas existentes no mundo todo.
Esses grupos enfrentam um perigo crescente na forma da expansão das fronteiras econômicas, em especial do lado do Peru, que tem demorado mais para criar reservas capazes de proteger as populações indígenas.
José Carlos Meirelles, funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) que estava no helicóptero de onde foram tiradas as fotos, disse que essa tribo deveria ser deixada isolada o máximo possível.
"Enquanto eles estiverem nos apontando flechas, tudo estará bem", afirmou ao jornal O Globo. "No dia em que se comportarem direitinho, estarão exterminados."
Historicamente, o contato com o mundo exterior mostrou-se catastrófico para os índios brasileiros, que hoje somam cerca de 350 mil indivíduos, um número muito menor do que os 5 milhões da época da chegada dos europeus.
"Em 508 anos de história, de milhares de tribos que existem, nenhuma delas adaptou-se bem à sociedade no Brasil", afirmou Sydney Possuelo, ex-autoridade da Funai que criou o departamento da fundação responsável pelos índios isolados.
Nos últimos anos, porém, tribos como os inanomami conseguiram conquistar uma proteção maior ao tornarem-se mais politicamente organizados e formarem laços com grupos conservacionistas estrangeiros.
"Não se trata de tomar essa decisão no lugar deles. Trata-se de dar-lhes tempo e espaço para que tomem essa decisão por si próprios", afirmou David Hill, do grupo Survival International.
No Peru, por exemplo, mais de metade dos murunahua morreu em virtude de gripe ou de outras doenças após terem entrado em contato com o mundo exterior pela primeira vez em 1996, como resultado da expansão da fronteira econômica, afirmou Hill.
Ver integrantes de tribos isoladas não é algo muito raro, ocorrendo uma vez a cada alguns anos na área da fronteira entre Brasil e Peru.
(de http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac181339,0.htm)
Terceiro (em 10/06/2008):
Fotos de índios podem causar 'mortes na Amazônia', diz autora britânica
Revelação da existência de tribo pode levar a 'missões religiosas e assédio da mídia'.
- O jornal britânico The Guardian traz em sua edição desta terça-feira um artigo de opinião alertando para o perigo do interesse público gerado pela divulgação, há duas semanas, de fotos de uma tribo de índios isolada na Amazônia.
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Segundo o artigo Morte na Amazônia, assinado pela escritora britânica Jay Griffiths, as imagens dos índios pintados de vermelho e preto empunhando arcos e flechas em direção aos invasores, em expressão de raiva e medo, transmitiam a mensagem clara de que "querem ser deixados em paz".
"Houve um grande interesse por parte do público quando as fotos foram divulgadas pelo governo brasileiro, revelando a curiosidade que despertam as tribos indígenas", diz a autora, que já esteve em contato com tribos isoladas na selva peruana a convite de ativistas indígenas e escreveu o livro Wild: An Elemental Journey.
"Mas enquanto muitos defensores dos índios querem divulgar seus alertas para a destruição da natureza e suas filosofias de vida, eles próprios, os índios, não querem nada disso".
"Eles não têm nada a ver com a cultura dominante e tudo que querem é ser deixados em paz", afirma a escritora.
Missões e TV
Griffiths acredita que com a divulgação das imagens esses índios serão perseguidos não apenas pelos grupos ilegais que desmatam a florestas, mas também por "missionários religiosos, empresas de televisão e aventureiros determinados a ignorar sua mensagem".
"Os riscos são bem conhecidos: milhares de índios isolados já morreram depois de contraírem doenças trazidas pelos invasores".
Griffiths afirma que no início do ano uma equipe de TV britânica esteve na selva amazônica peruana para procurar índios para participar de um reality show.
"A equipe foi acusada de visitar uma tribo isolada e transmitir doenças que deixaram quatro mortos."
Na opinião da autora, há um "profundo racismo contra as comunidades indígenas e a invasão forcada é a prova disso"
"O mercado editorial promove o aventureiro, as igrejas fundam missões, as corporações enviam mineradores e destruidores da floresta e as companhias de TV enviam suas equipes".
"Num mundo honesto, todos deveriam ser acusados por tentativa de assassinato".
Informação salvadora
Uma crônica publicada nesta terça-feira no jornal Le Monde, no entanto, vê com bons olhos a liberação das fotos.
O autor, Laurent Greilsamer, acredita que a Funai já sabia da existência da tribo há muitos anos e questiona a divulgação do fato domo "descoberta".
"Esta tribo não é desconhecida", afirma o autor. "Já faz 20 anos que a Funai decidiu protegê-la, rompendo o diálogo e deixando-a em paz".
"A decisão de revelar a existência da tribo foi para atrair a atenção da comunidade global para essa micro-sociedade ameaçada por empresas petroleiras e que adorariam penetrar tranqüilamente pelos confins do Peru ou do Brasil".
"Até agora o silêncio foi protetor; a informação pode se tornar salvadora", afirmou Greilsamer. BBC Brasil
(de http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac186797,0.htm)
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