sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Por que não tirar vantagem da pirataria?

Vejam só!

Tecnobrega revolution

Nelson Motta

Assim como a bossa nova, que além de um estilo musical se tornou um estado de espírito de uma época, o tecnobrega de Belém do Pará, mais do que uma música, criou um novo modelo de negócios na era digital.

A novidade, anunciada pelo antropólogo musical Hermano Vianna, agora é confirmada e desenvolvida pelo advogado Ronaldo Lemos, representante da Creative Commons no Brasil, no livro Tecnobrega: Reinventando o Evento da Música.

Em três viagens a Belém, encontrei uma cena musical vibrante e diversificada, que não é só tecnobrega: tem muito merengue, carimbó, guitarrada, rap, funk, rock. São milhares de pessoas trabalhando numa vasta cadeia de produção, distribuição e consumo de música popular que ignora gravadoras, lojas de discos, a prefeitura, o Estado e a União.

O americano Chris Anderson, editor da revista Wired e autor do best seller planetário A Cauda Longa (The Long Tail), referência máxima para o presente das mídias digitais e para os modelos de negócio na internet, esteve em Belém no ano passado, mergulhou na novidade e, em seu novo livro, dedicou um capítulo inteiro à revolução do tecnobrega - como modelo de negócios do século 21.

Entre a selva e o rio, com tecnologia digital barata, estúdios trabalham dia e noite produzindo as músicas que vão animar as rádios, as ruas e as festas. Os discos são promovidos e vendidos no tentacular circuito de camelôs da cidade, ao preço de uma cerveja: o que mais importa é a divulgação.

Onde os artistas, DJs e produtores vão ganhar dinheiro, e muito, é nos shows em bares, clubes e arenas - onde ficam com a parte do leão nas bilheterias, e os compositores recebem seus direitos autorais, quando o ECAD arrecada.

O tecnobrega inovou instituindo a pirataria de si mesmo, como meio barato de popularizar artistas e fazer dinheiro com apresentações ao vivo. O resultado é um estrondoso sucesso local, regional e até nacional, de bandas e artistas originários do tecnobrega, que souberam conquistar milhares de consumidores vendendo a preços acessíveis a música que eles desejavam. Viraram "case" internacional e um modelo de sucesso.

(de http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081121/not_imp281232,0.php)

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