quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

SUPERPOTÊNCIA EM VIAS DE EXTINÇÃO?

Li no Jornal Absoluto de hoje:

SUPERPOTÊNCIA EM VIAS DE EXTINÇÃO?



A primeira pagina do New York Times Magazine do dia 27 de janeiro passado diz tudo: dois dedos sujeitando uma minúscula réplica do mapa dos Estados Unidos no qual está escrito em letras pequenas “Quem fez desaparecer a superpotência?”. Devido às sombrias boas-vindas dada ao novo ano – um mercado financeiro global em queda e o crescente consenso de que a economia norte-americana caminha para a recessão – a única questão que ainda está em debate é até que ponto chegará e quanto durará a recessão. Os políticos norte-americanos evitam cuidadosamente dizer uma verdade que lhes causa pavor, mas talvez eles não compreendam por completo a situação: menos de uma década depois que os neoconservadores ganharam influência na Casa Branca e anunciaram um “novo século norte-americano” essa supremacia incontestável foi desafiada pelas fortes perdas “hemorrágicas” que sofrem o domínio econômico da superpotência, seu acionar militar e sua influência política. Essas tendências há tempos estão em andamento. Revertê-las exigiria uma forte dose de realismo, para o qual atualmente há pouca disposição, e um regime de autocontrole e dedicação que ainda está muito longe das mentes tanto dos políticos norte-americanos quanto de seu público. Durante a geração passada, os Estados Unidos deixaram de investir em seus sistemas educacional e de saúde, em sua infra-estrutura e industrial e em suas instituições democráticas, enquanto Europa, China e Índia reinventaram a si mesmas como vibrantes economias. Uma mostra impressionante desta inversão de posições pode ser encontrada na atual “liquidação total” de participações no melhor dos ativos empresariais e financeiros norte-americanos em mãos de seus similares da Rússia – precisamente a uma década da passada bancarrota terminal nesse país, que agora resplandece com renda oriunda do petróleo – de minúsculos estados-cidades como Cingapura e Abu Dhabi e, mais ainda, da China.

Precisamente oito anos depois do anúncio da existência de um mundo unipolar estamos entrando em uma era na qual pelo menos outros dois potentes centros de poder emergiram para desafiar a hegemonia de um Império Norte-americano agoniado pelas dívidas: uma União Européia em expansão e confiante em si mesma e uma máquina econômica chinesa que combina com destreza a política controlada pelo Estado do comunismo e o dinamismo destruidor do capitalismo desenfreado. Nenhuma destas superpotências emergentes continuará aderindo às diretrizes dos Estados Unidos como fizeram durante o último meio século. Sete anos de arrogância e obstrucionismo do governo de George W. Bush, combinados com a elevação do nível de prosperidade e educação na Europa, China e Índia fizeram com que estes países se vissem obrigados, e ao mesmo tempo capacitados, a começar a forjar vínculos uns com os outros. Eles estão estabelecendo suas próprias pautas globais e fazendo seus próprios acordos comerciais entre si e com um segundo grupo de nações ricas em recursos como Brasil, Rússia, Turquia e Irã.

Entretanto, o fato de as bolsas de valores desde Xangai a Bombay e Frankfurt parecerem ter pego uma pneumonia depois que Wall Street espirrou confirmou que esta desconexão entre Estados Unidos e o resto do mundo ainda está longe de ter se completado. Mas os analistas na Europa e na Ásia dizem que é improvável que suas economias sigam os Estados Unidos em sua recessão, porque seus “fundamentos” são muito mais saudáveis e nenhum deles sofre o peso do Iraque ou da guerra global contra o terror. Com uma moeda comum e um mercado maior do que o dos Estados Unidos, a um agora estabelece pautas manufatureiras globais e cotas sociais e ambientais às quais devem aderir a China e outros fornecedores globais. Surpreendentemente, nenhum dos principais candidatos presidenciais norte-americanos reconhece a mudança de poder que está em marcha. Esta negativa em assumir a realidade é em si mesma um sinal de que não é provável que Washington responda decisivamente diante da perda de domínio inconteste mediante a realização de mudanças profundas requeridas para reverter as atuais tendências. Mas a decadência dos Estados Unidos não é inevitável nem irreversível.

O surgimento de um afro-norte-americano e de uma mulher como candidatos viáveis à Presidência energiza não somente os eleitores, mas também os observadores de todo o mundo, os quais, apesar dos antecedentes negativos recentes ainda desejam o surgimento de uma novamente inspirada liderança dos Estados Unidos. Apesar de sua perda de poder e influência, Washington continuará sendo um poderoso ator na política mundial em um futuro previsível. Ao contrário da Grã-Bretanha, cuja renúncia à manutenção do império a forçou a uma retirada para uma segunda fila de nações, seu tamanho, cultura empresarial e tradição inovadora asseguram aos Estados Unidos um papel de pivô na política global. Os tempos difíceis que tem pela frente inclusive podem revitalizar uma disfuncional cultura política. Mais provavelmente, os cidadãos norte-americanos, suas instituições e suas empresas se unirão a milhões de outros ao redor do mundo para levar adiante uma agenda comum na qual no melhor dos casos seu governo acabará, mais cedo ou mais tarde, por unir-se. Por Mark Sommer - colunista norte-americano, dirige o programa de rádio A Worls of Possibilities. Crédito de imagem: The Economist. (Envolverde/IPS).

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