sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dólar fraco afeta o petróleo

É o dólar fraco + especulação que fazem a coisa toda degringolar!

Dólar fraco afeta o petróleo
Por A. F. Alhajji
23/05/2008


Em todo o mundo, reina um lamento angustiado em torno do alto preço do petróleo. Mas, se os líderes políticos e os formuladores de política querem preços de petróleo mais baixos, deveriam promover políticas que fortalecem o dólar.


As implicações de se fixar o preço do petróleo em alguma moeda comum são de muito maior alcance do que pensa a maioria das pessoas. Por exemplo, alguns países produtores de petróleo pedem que seus clientes paguem em euros, mas isso não significa que o preço do seu petróleo é fixado em euros. Além disso, mesmo se o preços em dólar fossem substituídos por preços em euro, o impacto da determinação do preço em uma moeda única sobre o mercado do petróleo seria o mesmo.


Embora os países exportadores de petróleo recebam suas receitas em dólares (ou seu equivalente em euro), eles usam moedas diferentes para importar bens e serviços de vários países. Qualquer mudança na taxa de câmbio do dólar afeta o poder de compra desses países e, portanto, sua renda real.


Da mesma forma, as companhias de petróleo internacionais vendem a maioria do seu petróleo em dólares, mas atuam em vários países e pagam parte dos seus custos em moedas locais. Qualquer mudança no valor do dólar, portanto, afeta sua estrutura de custo e rentabilidade. Ela afeta, por sua vez, o reinvestimento em exploração, desenvolvimento e manutenção.


A relação entre o valor do dólar e os preços do petróleo é muito complexa. Apesar de ambos poderem interagir para produzir um ciclo vicioso, seu relacionamento de curto prazo é diferente do seu relacionamento de longo prazo.


No curto prazo, a depreciação do dólar não afeta a oferta e a demanda, mas afeta a especulação e o investimento nos mercados futuros de petróleo. Enquanto o dólar cai, as matérias-primas - incluindo o petróleo - atraem investidores. Investir em mercado futuro torna-se ao mesmo tempo uma proteção contra um dólar enfraquecido e um veículo de investimento que pode render lucro substancial, especialmente num ambiente de escassez dos excedentes na capacidade de produção de petróleo, aumento da demanda, queda nas taxas de juros, mercado imobiliário recessivo e crise no setor bancário.



No curto prazo, a depreciação do dólar não afeta a oferta e a demanda, mas a especulação e o investimento nos mercados futuros de petróleo


A Opep pode estar certa em responsabilizar as políticas dos EUA e os especuladores pelos preços mais altos. Também é certo que, se a Opep tivesse excesso de capacidade produtiva, já a teria usado para expulsar os especuladores e reduzir os preços. A Opep pode retomar o controle com uma de duas formas: usar a sua "declarada" capacidade produtiva excedente para expulsar especuladores, ou usar os seus superávits financeiros para anulá-los. O recurso à última opção significa que, mesmo sem a capacidade excedente, a Opep ainda pode ocupar o assento do motorista.


No longo prazo, porém, a análise estatística de diversas variáveis da indústria petrolífera indica que um dólar mais fraco afeta a oferta, reduzindo a produção, independente de o petróleo ser ou não pertencente a, ou produzido por companhia nacionais ou internacionais. Um dólar fraco também afeta a demanda, aumentando a produção. O resultado de uma diminuição na oferta e um aumento na demanda é preços mais altos.


O dólar mais baixo também reduz o poder de compra dos exportadores de petróleo. Se os preços nominais do petróleo permanecerem constantes enquanto o dólar cair, a renda real dos países produtores de petróleo cairá, resultando em menos investimento em capacidade produtiva adicional e manutenção. O mesmo se aplica para as companhias petrolíferas. Conseqüentemente, os preços do petróleo aumentam.


De fato, devido ao aumento dos preços do petróleo em meio à queda do dólar, a expansão da capacidade produtiva das petrolíferas não conseguiu corresponder às projeções para a produção fora da Opep nos três últimos anos. Mesmo a produção de petróleo nos EUA não se equiparou ao aumento nos preços do petróleo, já que os custos crescentes de importação de ferramentas e equipamentos - em parte um reflexo da debilidade do dólar e de outros fatores - provocaram adiamentos e cancelamentos de projetos.


É claro, o dólar mais baixo significa petróleo mais barato na Europa, Ásia e em todos os países com moedas que se valorizaram. Os preços do petróleo atingiram recordes nos EUA em 2004 e 2005, mas não na Europa, o que explica em parte por que o crescimento econômico lá não foi afetado. Quando os americanos pagavam US$ 120 por barril, os europeus desembolsavam apenas aproximadamente US$ 76 por barril.


Vários fatores impediram que os preços do petróleo afetassem a demanda por derivados de petróleo nos EUA nos anos recentes, como os crescentes gastos do governo, baixas taxas de juros, benefícios fiscais e um aumento nas rendas reais. Certamente, o dólar mais fraco obrigou algumas famílias americanas a passar as suas férias nos EUA, em vez de viajarem à Europa. Considerando que muitos americanos usam veículos esportivos que desperdiçam gasolina em suas férias, a demanda pelo combustível tem se mantido elevada.


A menos que, e até que os padrões de consumo dos EUA mudem, ou que um dólar em recuperação aumente a produção do petróleo, os americanos suportarão o impacto da fixação do preço do petróleo em moeda única.


A. F. Alhajji é economista especializado no setor energético e professor na Ohio Northern University. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008. www.project-syndicate.org
( da ValorOnLine - http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/opiniao/Dolar+fraco+afeta+o+petroleo,08235,,58,4943865.html)

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