terça-feira, 6 de maio de 2008

PF abre inquérito para apurar disparos contra índios na Raposa

Eles têm direito às terra deles e pronto! E vejam mais: 'Roraima é do Brasil graças aos índios', diz especialista

PF abre inquérito para apurar disparos contra índios na Raposa

Apesar do ataque, Conselho Indígena de Roraima pretende continuar a ocupação na reserva indígena

Loide Gomes, especial para O Estado

BOA VISTA - A Polícia Federal já abriu inquérito para investigar os disparos contra dez índios das etnias macuxi e ingarikó, nesta segunda-feira, 5, na Reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Eles foram feridos a bala, após tentativa de ocupação da fazenda Depósito, do rizicultor Paulo César Quartiero, que também é prefeito do município de Pacaraima. Apesar do ataque, Conselho Indígena de Roraima pretende continuar a ocupação.

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A fazenda Depósito fica a sete quilômetros de Surumu, localidade a 160 quilômetros de Boa Vista que concentra os conflitos entre índios e não-índios pela posse da reserva de 1,7 milhão de hectares.

Às 5h, um grupo de 103 indígenas, entre homens e mulheres, iniciou a ocupação de uma área da fazenda livre de plantação de arroz e afastada da sede. Em pouco tempo, eles construíram quatro malocas (casas) com palha e madeira. Dois funcionários de Quartiero chegaram ao local pilotando motos e ordenaram a saída dos índios. Diante da negativa, foram embora e retornaram com mais três motoqueiros e uma caminhonete.

"Eles já chegaram atirando e disparando as, sem dar chance de defesa às vítimas", afirma Júlio Macuxi, coordenador de Programas do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Ele diz que a ocupação se deu pela necessidade de ampliação da comunidade Renascer, próxima à cerca da fazenda, que estaria "sufocada".

Paulo César Quartiero disse que não estava na fazenda no momento do conflito, mas foi informado por seus funcionários que os índios teriam "invadido" sua fazenda armados de cacetetes, arco e flecha. "Os funcionários disseram que quando tentaram retirá-los, eles atiraram flechas. Então houve reação", afirma Quarteiro.

Os tiros foram disparados de espingardas calibre 16. Sete índios foram levados para o hospital de Pacaraima. Os demais, Glênio Barbosa, 22, João Ribeiro, 30, e Antônio Kleber da Silva, 25, foram removidos em avião da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para Boa Vista.

O médico Renerys Pinheiro, que atendeu os três no Pronto Socorro Francisco Elesbão, disse que os ferimentos são leves e que os indígenas receberão alta ainda hoje. Glenio Barbosa é ingarikó e foi atingido com estilhaços de chumbo no nariz, no lado esquerdo do rosto, no tórax e na perna. João Ribeiro teve um ferimento na perna e Antônio Kleber da Silva foi atingido no tórax e abdômen. Os dois são da etnia macuxi.

Ocupação vai continuar

Apesar do ataque, a ocupação vai continuar. Os índios não aceitam a posse de Quartiero nem dos seis rizicultores que permanecem na área. Para eles, os produtores é que são os "invasores". "Este ataque é uma afronta à Constituição Federal e ao Supremo Tribunal Federal, mas não intimida as comunidades. Ao contrário, só fortalece os indígenas da Raposa Serra do Sol e de todas as comunidades de Roraima", diz o índio Júlio Macuxi.

O líder indígena ressaltou que vai reforçar o pedido de segurança na área, feito há um mês, e exigir que a Polícia Federal desarme os funcionários das fazendas de arroz, que ele classifica de "milícia".

Ação Judicial

Nesta terça-feira, o Governo de Roraima protocola no Supremo Tribunal Federal (STF) a ação principal da medida cautelar ajuizada no mês passado e que suspendeu a retirada de não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol, por decisão unânime dos ministros do STF.

O governador Anchieta Júnior (PSDB) está em Brasília e acompanha pessoalmente o protocolo do documento. Ontem à noite, ele teve audiências com o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes e Carlos Ayres Britto, relator das 33 ações que questionam o processo demarcatório da reserva.






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